A uma menina que vi na rua
Celio Roberto (Jamaica) Pereira de Oliveirai
A vida que marcou a negra pele
Não foi construída, foi herdada
Não recebeu nada na partilha
Alem da parte que não lhe cabia
Não teve a terra onde produzia
Nem arroz e o feijão que plantava
Não teve nada alem do nada que já possuía
Quando deixou a senzala
Na cidade cinza onde pés negros caminham
E barrigas negras de mães negras
Famintas
Vasculham os cantos buscando comida
Não vê que dentro da barriga
Da negra menina gesta outra menina negra
A menina do olho da menina
Da negra menina que olha a vida
Não vê que a comida que não tem hoje
É a parte que foi negada no tempo da partilha
Não sabe escrever uma linha
Não sabe entender sua vida
E mesmo assim escreve
Cada capitulo de sua historia sem ter tinta
E cidade se pinta de arco-íris todos os dias
Pinta-se e diz que é arco-íris
Que é multicor
E todos os dias a menina se torna mais sem cor
O IBGE não perguntou o que sabia de cor
E a menina na respondeu por que não sabia
Não sabia que a cor que a sua pele trazia
Que a salário que nunca teve
Que o gênero que Deus lhe deu
Que casa que não tinha
Não interessa para estatísticas
A menina faminta caminha
Suas pernas pretas finas
Cambaleiam na avenida
A menina preta caminha
Suas finas pretas pernas
Cambaleiam
E desabam na avenida
A cidade cinza não vê a menina
O asfalto preto como manjedoura
No fim de um velho dia
Da barriga faminta
Que não estava somente cheia de fome
Nasce outra menina
Sem nome
Sem pai
Sem sorte
e
Já sem vida
4 comentários:
Li e reli gostei muito,maravilhoso e tão real ao mesmo tempo a gente lÊ e fecha os olhos e parece ver tudo acontecer,vc como sempre supreendendo
e muito lindo esse poema
d++++
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