sábado, 16 de abril de 2011

A uma menina que vi na rua

A uma menina que vi na rua


Celio Roberto (Jamaica) Pereira de Oliveirai


A vida que marcou a negra pele

Não foi construída, foi herdada

Não recebeu nada na partilha

Alem da parte que não lhe cabia


Não teve a terra onde produzia

Nem arroz e o feijão que plantava

Não teve nada alem do nada que já possuía

Quando deixou a senzala


Na cidade cinza onde pés negros caminham

E barrigas negras de mães negras

Famintas

Vasculham os cantos buscando comida

Não vê que dentro da barriga

Da negra menina gesta outra menina negra


A menina do olho da menina

Da negra menina que olha a vida

Não vê que a comida que não tem hoje

É a parte que foi negada no tempo da partilha


Não sabe escrever uma linha

Não sabe entender sua vida

E mesmo assim escreve

Cada capitulo de sua historia sem ter tinta


E cidade se pinta de arco-íris todos os dias

Pinta-se e diz que é arco-íris

Que é multicor

E todos os dias a menina se torna mais sem cor

O IBGE não perguntou o que sabia de cor

E a menina na respondeu por que não sabia


Não sabia que a cor que a sua pele trazia

Que a salário que nunca teve

Que o gênero que Deus lhe deu

Que casa que não tinha

Não interessa para estatísticas


A menina faminta caminha

Suas pernas pretas finas

Cambaleiam na avenida


A menina preta caminha

Suas finas pretas pernas

Cambaleiam

E desabam na avenida



A cidade cinza não vê a menina

O asfalto preto como manjedoura

No fim de um velho dia

Da barriga faminta

Que não estava somente cheia de fome

Nasce outra menina


Sem nome

Sem pai

Sem sorte

e

Já sem vida



4 comentários:

polonia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adrí disse...

Li e reli gostei muito,maravilhoso e tão real ao mesmo tempo a gente lÊ e fecha os olhos e parece ver tudo acontecer,vc como sempre supreendendo

kharyne disse...

e muito lindo esse poema

kharyne disse...

d++++